26 de dezembro de 2024

Meu bem, meu mal na Umbanda.

Artigos 15/10/2024 13:23

Nos primórdios da era Vargas até 1950 as religiões de matrizes africanas sofreram perseguições, preconceitos, apagamentos e assim a fé de origem africana ficou mal vista. Apesar do racismo estrutural, institucionalizado, muitos procuram as casas espíritas, onde são abrigados, gratuitamente, amorosamente, apesar dos interesses subalternos que divulgam inverdades sobre Umbanda.

O historiador Luiz Antonio Simas é uma dessas figuras fascinantes e múltiplas que só poderia existir no (nosso) Rio de Janeiro: poeta, compositor, professor e, como ele mesmo se define, “festeiro” e “fresteiro”. A festa, para Simas, é esse “espaço de construção do protagonismo das cidadanias negadas”, enquanto a fresta é a oposição à domesticação dos corpos e das cidades aquele lugar onde “o corpo garrincha-se, terreiriza-se”. Seu objeto de estudo e escrita são as festas e frestas, figuras, histórias, práticas e ritos que existem em oposição ao domínio e à colonização, em um espaço entre a realidade e o encantamento.

Acontece que no meio de tudo isso, e ao mesmo tempo, produzimos formas originais de inventar a vida onde amiúde só a morte poderia triunfar. Uma brasilidade forjada nas miudezas da nossa gente, alumbrada pela subversão dos couros percutidos, capaz de transformar a chibata do feitor em baqueta que faz o atabaque chamar o mundo; produtora incessante de vida no arrepiado das horas, nas tecnologias do despacho na encruza e na alteridade da fala: língua do congo, canto nagô, baque virado na vida de caboclo estremecendo a aldeia. Macumba!Mas o que seria, afinal, a macumba? Umbanda é macumba?”

Compreender essa cosmogonia tão própria ajuda a entender as escolhas do autor em “Umbandas” (acertadamente no plural), seu mais recente livro publicado pela Civilização Brasileira. Trata-se, como deixa claro o subtítulo, de uma visão da história do Brasil conforme construída pelas manifestações religiosas populares.

O autor passeia pelas histórias (sempre no plural) da religiosidade popular, falando de práticas como calundus, pajelanças, danças, juremas e mandingas. A proteção do corpo e da alma, as divinações. O encantamento é tema central com suas tecnologias de cura (os transes místicos, orações, garrafas e xaropes) e espaços de intersecção e comunicação com e pelas bocas, corpos e danças dos vivos. Aliás, para as umbandas, como bem lembra o autor, entre a vida e a morte, “não existe dicotomia, mas interação”.

Em “Umbandas”,Simas trata os sincretismos como muito mais do que simples mistura de tradições e sim como própria força criadora da história brasileira, pois intimamente ligados às movimentações espaciais e sociais por que passam o país e a sua gente. Caboclos migram das práticas de juremas para os terreiros na medida em que índios e africanos se encontram. Orixás e ciganos convivem com reis mouros. Zé Pelintra sai de Alagoas e desembarca malandro na Lapa, junto com os migrantes que vêm para a capital, como bem cantado em um famoso ponto.

Muitos diziam que era coisa do diabo, que sacrificaram crianças e torturaram animais entre outras coisas abomináveis. O culto era visto como coisa ruim e começou a ser temido por muitos.

Algumas religiões se aproveitaram disso para banalizar ainda mais o povo do axé que só queria e continua querendo fazer o bem. Esse período foi o suficiente para denegrir e distorcer o que realmente é a Umbanda. Com a Internet e a coragem de alguns pais e mães de santo, sacerdotes e sacerdotisas, yalorixás e babalorixás muito se esclareceu e exercita-se a fé com mais liberalidade.

A perseguição atual não é política e sim religiosa. Lideranças racistas, despreparados pregam o preconceito e a intolerância religiosa, de forma velada ou com violência e falta de respeito para a Lei vigente. O Brasil foi construído pelo negros, sua força, sacrifício e inteligência, a quem nós devemos gratidão e reconhecimento, à esse povo que tanto fez pela nação onde foram trazidos pela força, sem remuneração, sem reconhecimento, ganhando  violência e humilhação.

Hoje mais informados deveríamos reconhecer esses povos, respeitando sua fé, sua visão de mundo e das forças criadoras da natureza.

Uma fé que respeita a todas e respeita nossas origens, pois todos nós somos filhos da grande mãe natureza onde se encontram os pontos de força e de fé do Umbandista.

A Umbanda foi apedrejada numa perseguição injusta e injustificável, pois é do bem, é o próprio bem. Ela cura, restaurar, respeita, cuida, ensina, faz florescer a fé, esperança, caridade para com todos e para a natureza. Se o homem é a mediada de todas as coisas, o mal é manifestação do que dissemina calúnia, injuria,difamação. Hoje claramente podemos ver que não existe Umbanda do bem ou do mal, existem pessoas do bem ou do mal.

Uma casa de Umbanda prega o amor, respeito, paz, alegria... Como diz seu hino: 'A Umbanda é paz e amor um mundo cheio de luz...'

O racismo, o preconceito é condição moral, de caráter, não questão religiosa. Há que se distinguir entre o culto ao Criador e o culto ao racismo geográfico, sexista, religioso. Desejar mal é incompatível com o ideário da nação mais cristã da Terra. Ser religioso vai além de frequentar culto, há de ser caminho ou ferramenta para lapidar nossas emoções e sentimentos que estão desalinhados. Bem e o Mal estão em nós, não na religião muito menos na fé.

Giulianna Altimari é psicoterapeuta holística, taróloga e sacerdotisa de Umbanda. Contato (65)99641-0281 Revisão do artigo: Dr Dionildo Campos, advogado e sacerdote de Umbanda.


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